1/Pecado Original

Então, após retornar do trabalho, vi um anjo no meu quarto segurando uma guitarra.
... Acho que finalmente enlouqueci.
Cabelos longos, loiros e ondulados e um vestido simples completamente branco.
Um rosto que dava indícios de uma juventude ainda infantil e… um anel de luz flutuando sobre sua cabeça?
Se isso não era um anjo, então eu não fazia idéia alguma de como um deveria ser.

“Boa noite"
O anjo inclinou a cabeça para frente num sorriso um tanto envergonhado.

Depois de esfregar meus olhos, entrei. O anjo permaneceu em pé no meio do quarto segurando a guitarra, e por alguma razão me olhava animada.

“Ok, quem diabos é você?”

“Eu sou um anjo" – disse ela aos risos e de forma animada.

“É, isso eu já percebi. O que eu quis dizer foi, porque você está no meu quarto? Se você está aqui para se vender, está no quarto errado. Odeio ir direto ao ponto assim, mas não ganho dinheiro suficiente para comprar um anjo.”

“Humm, não estou aqui para isso. Hum, qual seria a melhor forma de colocar? Eu gostaria de cuidar dos seus afazeres de casa.”

“Posso cuidar disso sozinho. Cai fora.”

“Ei, não posso fazer isso. Olha só, eu posso fazer qualquer coisa!”
Como ela estava cheia de confiança, deixei que ela limpasse a casa. O resultado: uma cena muito mais horrenda do que uma tragédia.

“... Hum, a minha comida é perfeita! – disse o anjo, rapidamente levantando seu dedo indicador.

"Não obrigado. Não posso comer a comida produzida nas fábricas. Têm nutrientes demais e isso romperia as minhas veias. Você entende o que eu quero dizer?"

O anjo acenou positivamente com a cabeça. Parece que pelo menos ela sabia que eu era um ser humano à parte das espécies de A-Rays.

"Ok. Então o que mais você pode fazer?"

“Eu posso tocar a guitarra!” – disse ela esbanjando felicidade, acariciando o instrumento.

A sua guitarra azul era do tipo que usava eletricidade para produzir sons.
Não era o tipo de produto que caía bem com anjos.
E não apenas isso. Ela era péssima.

“Saia daqui."
Peguei-a pelas mãos e a expulsei pela janela.

Alguns dias se passaram e fui ao hospital.
"Não há nada de errado com o seu cérebro" – respondeu um médico com cara de peixe.

E então eu, todos os dias após o trabalho, gastava energia expulsando aquele anjo.
Eventualmente, parei de me preocupar. "O céu… está escuro." – murmurou o anjo enquanto olhava para o céu através da janela.

Um anjo que nem mesmo sabia disso.
Estranho. Ela também não parecia ser um dos anjos artificiais inclusos nos A-Rays.
"Ei. De onde você vem? Não acho que você seja um A-Ray desse lado da fenda.”

“Eu não sou um A-Ray.”

“Então você é o quê?”

“Sou um ser criado pelos sonhos e esperanças das pessoas que vivem nessa cidade. É por isso que sou tão bela. Estou feliz que todas as pessoas daqui tenham almas tão puras.”

O anjo rodopiava cheia de felicidade.
A borda de sua saia ondulava como um vestido.

Agora que ela mencionou isso, parecia irreal. O anjo era belo demais para ser um habitante da Terra de Aço.
Ela tinha cabelos dourados e deslumbrantes, tanto que eram quase um veneno.
Então isso queria dizer… Que ela era uma ilusão apenas vista por mim?

"Erm, então porque a manifestação da imaginação de todos está no meu quarto?”

“Porque foi você quem me matou!”

Ela parecia mais zangada pelo fato de eu não ter percebido isso do que pelo fato de eu tê-la “matado”.
Quando perguntei se ela havia vindo aqui em busca de vingança, ela me respondeu: “O que é vingança?”

O anjo se revelou como sendo bem útil e aprendeu gradualmente muitas coisas. Agora ela aparentemente entendeu o que significa limpar. A única exceção a essa regra era qualquer coisa relacionada à guitarra.

“Não obtive nenhuma melhora com a guitarra. Estou tocando da maneira como imagino, mas o som produzido e o som em minha mente são completamente diferentes.”

Ah, então havia uma música que ela queria tocar. Mesmo assim, é claro, ela não iria melhorar nem um pouco.

“Mas é claro que não. Essa guitarra nem mesmo foi afinada.”
Era isso mesmo. A guitarra estava ferrada desde o começo.

O anjo inclinou a cabeça para o lado e me perguntou: “O que é afinar?”

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